Modernizar Portugal?
Uma vez, estava eu numa fronteira a entrar num país longínquo, quando o guarda fronteiriço fardado me perguntou, simpaticamente, "se não havia nada prós patrão".
Passado o primeiro momento de arrepio, lá sorri com um ar o mais tonto e alheado que consegui, numa tentativa desesperada de não enfrentar a situação.
Mais tarde, ainda nesse país, um militar fardado advertiu-me que não passasse por cima de uma linha de tinta encarnada pintada na estrada, facto que me apressei a obedecer apesar do insólito, como um bom forasteiro que não conhece as regras da casa mas não quer ofender culturas. Pois o profissional zeloso acabou a sua instrução com a mesma pergunta sacramental "se não havia nada prós patrão".
A ambos consegui fazer o tal riso tonto e ar alheado e sair da situação sem maior incómodo do que a situação em si, e desapareci do cenário sem olhar para trás.
Falei deste caso com um colega desse país, que quase me acusou de xenofobia. Que eu nem imaginava ao que a pobreza podia levar, que estas pessoas não tinham salários e era com estes esquemas paralelos como estes que conseguiam sustentar as famílias, que para mim era tudo muito simples, porque eu vivia num pais europeu onde havia " moral" para punir estas práticas porque as alternativas existiam.
Fiquei triste por ser contemporânea destas práticas. Tentei com a maior abertura ver o lado "miserável"/desculpabilizante da questão: havia cidadãos com emprego que tinham que coagir outros cidadãos, bem para além dos limites do seu poder e da legalidade, para conseguir alimentar a sua família? Custar-me-ia viver num pais assim.
Passaram uns anos e eu descobri que vivo mesmo num país assim!
Por aqui há um perverso grupo que exibe orgulhosamente uma "miseriazinha": não precisando de dinheiro para comer e dar de comer às suas famílias, precisa desesperadamente de um poder para o qual não tem competência. Exibe então o "poder" de chatear, de pôr obstáculos inenarráveis e de criar problemas vagos e delirantes, quiçá para que não seja (tão) óbvia a sua incompetência, a sua preguiça e a sua prepotência.
Para nosso azar os profissionais que não querem ou não sabem fazer nada, não se limitam a ir de férias ou a pedir dinheiro aos colegas: não! eles candidatam-se às chefias intermédias, não para a fama ou para a glória, mas para evitar a todo o custo que alguém à sua volta seja capaz de fazer o que eles não querem ou não sabem fazer.
O poder nacional, nestas chefias intermédias, é esse mesmo, é o poder de ser capaz de pôr em marcha e manter obstáculos e problemas: é a máquina burocrática no seu expoente máximo. Impede-se assim o desenvolvimento do país, para permitir o deleite masturbatório de um grupo preguiçoso de incompetentes, desta elite de "sub-chefes"!
As chefias principais não dão por isso, ou se calhar até dão por isso mas fazem (como eu no tal país) um ar tonto e alheado: é que estas chefias intermédias são boas para "fazer faxinas"
são servos medíocres mas bajuladores e fieis ao "chefe", os tais que vão "ao cinema com o chefe"! estes não "pedem dinheiro prós patrão"
estes querem mesmo chatear e deleitar-se vendo o país patinar na lama, enquanto eles se exibem a polir esquinas nos corredores das instituições, sempre "na má língua"!
Pobre país! Como vamos sair desta?
Por cá não temos "miseráveis", mas como nos vamos livrar dos "miserávelzitos"