sexta-feira, 15 de agosto de 2008

De Lagos a Lagos

Em Lagos, tal como diz a canção “Cabo Frio” nos anos 40, “ tem vento, tem praia, tem peixe”.
Agora…tem também turista, uns anos mais e uns anos menos.
Agora tem… e cada ano mais…betão…betão….
Betão! construções anónimas, assépticas, imparáveis…
E os Portugueses estão a diminuir…. e a agressividade do turismo português está em recessão no confronto do binómio “qualidade-preço” com outras paragens….
PARA QUEM SÂO ESTAS CASAS? Porque não pára a construção? Tornou-se má, cara, malparada, mal acabada, feia e a dar cabo da paisagem e da orla marítima e, até…do turista.

Nós temos um pequeno apartamento que dá para a Meia Praia e para a piscina, num condomínio reconhecido internacionalmente pela sua cor “amarelo-limão-bilís”.

Viemos para Lagos há 5 anos, tentando adoptar esta cidade como segundo céu, e na verdade nada correu perfeitamente… desde o primeiro dia…, Desde o primeiro dia em que viemos de Lisboa com várias confirmações de que “está tudo pronto à espera dos senhores” e ficámos nessa noite num obscuro hotel da zona, a fazer um “pic-nic”, com ementa de salmão fumado com tostinhas e ovas de lumpo, mais champagne, tudo “ by Pingo Doce”, que tínhamos escolhido para a nossa primeira noite, na casa de férias…
A partir daí e durante muitas visitas, desenvolvemos a noção de “ tempo de sul”, que mais não foi do que a nossa impotência face às ideosincrasias locais
(“Fazer a escritura pelo preço de venda! desculpe mas não é possível… "ninguém" quer isso! …para que querem pôr o preço certo? Então não sabem que assim pagam mais sisa? é que "ninguém" faz isso…!).

Com o tempo e a nossa instalação fomo-nos habituando a “ qualquer coisinha” estilosa, que nunca deixaria de acontecer…ano após ano….

Gostamos de Lagos no Inverno, de Lagos até Junho com Primavera e (ainda) sem turistas…a feira medieval com corso nas ruas.
Mas …mesmo o inevitavelmente cheio Lagos, em Agosto, bem…“ tem peixe… tem mar…tem vento”.

Ficam-nos as voltas de “windsurf”, os passeios de barco com o Gustavo e a Ana, os grelhados, os nossos miúdos que vamos recebendo, ao seu ritmo incerto e errático, mas que já por cá foram passando todos….
Mais… é o espaço para trazer anualmente, e durante uma semana, as mães (ambas viúvas) “a banhos”.

O centro de Lagos está cheio em Agosto, em alguns anos mais do que em outros… mas aconchegado quase todos os anos, pelo menos até dia 15.
Lá estão os que tocam, os “mimos”, os caricaturistas, os dois pintores residentes, ela (a Chinon) a pintar casa algarvias como uma deusa… outros motivos, menos bem, … ele ( o Martins) a pintar barcos. Ambos a acrílico sobre tela, com montes de reproduções sobre tela (ela), a preços bem mais acessíveis. Nós temos duas destas reproduções aqui na entrada de casa.
Não adorámos tanto que justificasse comprar um original, que ombreasse com os que nos acompanham no dia a dia, aqui como em Lisboa, vindos dos 4 cantos do mundo, sempre comprados em directo a artistas que vamos conhecendo.

Em Lagos há ainda aquele cinema indescritível, na Luz onde vimos tantos filmes, sozinhos ou com um ou outro errático, ao longo do ano e dos anos, os concertos no Centro Cultural de Lagos…a feira do Livro de do disco, a festa da sardinha em Portimão… e sempre, todos os anos a esta parte o Festival de Jazz de Lagos.

Começa hoje e vamos agora para lá, logo que cheguem uns amigos que vêm partilhar da animação.
É isto que gostamos em Lagos: tem uma vida cultural própria.

Este ano há uma banda: “New Orleans Jazz Band”! De Nova Orleães pois claro!

Nova Orleães impressionou-me pela primeira vez em 1996. Cheguei e, não havia hotel livre em toda a cidade das pensões aos 5 estrelas… qualquer coisa como uns campeonatos juvenis que acabavam no dia seguinte. Toda a noite no aeroporto, por falta de alternativa…
No aeroporto, à espera do dia seguinte para seguir para um hotel... um desassossego toda a noite, com gente e gente a chegar com uma espécie de copos gigantes cheios de uma bebida não identificada e muito colorida com palhinhas enormes… demorei 24 horas a descobrir de onde vinham…claro da Bourbon Street, da rua da noite onde não se dorme, onde se bebe e ouve e se venera o Jazz (agora entre outros estilos mais consentâneos com a bio-diversidade!).
No dia seguinte, já com hotel e debaixo de uma chuva tropical, daquelas tipo duche quente que nos seca e nos molha em intervalos breves, e nos deixa mal dispostos e com um grande mau aspecto, até nos habituarmos…. Ouvi Jazz na rua pela primeira vez…

Ele eram miúdos, jovens, veteranos.. tudo e todos tocam naquela terra, por todo o lado… por aquelas ruas de distinto estilo colonial, no French Quarter.
Todos cantam e tudo nos embala e nos faz (até) gostar da chuva, (até) gostar da comida Cajun (brrrr!!!!), (até) ficar curiosos no estilo turístico, e resolver ir à descoberta do túmulo, e da lenda, da Marie Laveau, ícone local do Voudou, com romarias à sua campa e comentários à sua vida e À sua história, desde a sua libertação de escrava vinda de Africa, até ao seu poder, e o de sua filha (diz-se que ela e a sua filha seriam uma só pessoa), na sociedade de então.
Então Nova Orleães é Jazz, é tempestade tropical, é Voudou, e é Cajun, e eu apreciei-os por esta mesma ordem.

A segunda vez que Nova Orleães entrou na minha vida foi com o tufão/ inundações.
Todos criamos pele de galinha e incómodo, entremeados com um sentido de pesar e solidariedade cósmicos, com as notícias de catástrofes naturais, ou fabricadas pelas pessoas…
Estas inundações para mim tocaram-me especialmente… como antes tinha acontecido com a guerra na Bósnia. Em ambos os casos senti a tragédia na pele, nos locais que conhecia, nos amigos que sabia agora em apuros.

A Universidade de Nova Orleães era alvo frequente dos meus “emails”, o Paul Frick, nosso colaborador na área da violência juvenil tinha partilhado connosco o “ PSD”, (não… não é esse…para que não haja confusões este PSD é o “Psychopatic Screen Device”).
Não descansei até ele me responder agradecendo o meu cuidado, dizendo estar já bem, mas, como todos por ali, ter-se passado muito mal… e contando histórias.

Enfim hoje há Jazz em Lagos, com a “New Orleans Jazz Band” à solta pela cidade!!!
Vou ver e incluir fotos. Assim me ajude a minha competência nestes procedimentos “ blogistas”, que ainda está a construir-se.


Pronto… e cá veio a parte de Lagos que não gostamos tanto…
Não se vai acreditar mas, então não é que não houve parada Jazz ?
Vai-se imaginar que “por motivos de comunicação (?)”, segundo nos informaram, a parada foi antecipada (?), das 19h para as 17h e tinha passado, anónima e inesperada “ too soon” /demasiado cedo… ?

Não há, portanto, fotos! Aí Lagos Lagos!

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