E há dois documentos que me recomendaram:
Um, por dever de memória, Tarrafal: Memórias do Campo da Morte, filme de Diana Andringa (2009), com a duração de 88': "Chamavam-lhe 'o Campo da Morte Lenta'. Os críticos, naturalmente. Que as autoridades, essas, chamaram-lhe primeiro, entre 1936 e 1954, quando os presos eram portugueses, 'Colónia Penal de Cabo Verde' e, depois, quando reabriu em 1961 para nele serem internados os militantes anticolonialistas de Angola, Cabo Verde e Guiné, 'Campo de Trabalho de Chão Bom' " (sic).
Que o trabalho, claro, "liberta" e "faz bem à saúde"
Trinta e dois portugueses, dois angolanos, dois guineenses ali perderam ali a vida
Citando a realizadora e produtora: "É um documentário feito à base de depoimentos e filmado quase sempre no interior do campo, afinal, o espaço em que os presos se moviam. Entre as raríssimas excepções, o cemitério, onde acompanhamos a homenagem dos sobreviventes aos que ali ficaram. Vozes, caras expressivas contra fundo de cela. Alguns objectos surpreendentes: as calças rasgadas pelo chicote e puída pelo chão prisional, a planta do campo desenhada num osso de vaca, a bengala que testemunha o resultado da tortura. A alegria de se verem lembrados em duas exposições nas celas que tinham ocupado
A alegria: palavra estranha num filme sobre o Tarrafal. Mas essa é a grande lição destes homens: porque, como diz um deles, o caboverdiano Jaime Scofield, 'o mais importante não é que eles nos tenham querido matar lentamente. O mais importante é que nós resistimos.' "
Exibições: 23 de Abril, 21h30, Culturgest, Grande Auditório; 25, 18h30, Culturgest, Pequeno Auditório.
Outro documentário - porque a saúde pública precisa de ter (e de treinar o) olhar sócio-antropológico - é o filme de Rui Simões, de 2010, com a duração de 95', Ilha da Cova da Moura, um bairro do Concelho da Amadora, injustamente estigmatizado e mal amado, que pode ser visto, simbolicamente, como a última ilha que nos restou do arquipélago a que um dia chamámos Império Colonial... Parafraseando uma jovem moradora local, "português preto não existe" (sic)... A frase, na sua ambiguidade, pode também querer sugerir duas coisas: que há, entre nós um velho racismo subliminar nunca resolvido, e que a exclusão social e o racismo andam quase sempre de mãos dadas...
Um trailer do filme, com a duração de 1' 45'', pode ser visto aqui:
http://www.trailers.com.pt/ilha-da-cova-da-moura/
Exibições: 28 Abril, 19:00, Culturgest, Grande Auditório; 30 Abril, 18:30, Culturgest, Pequeno Auditório
Sinopse: Na área da Grande Lisboa, o nome Cova da Moura nunca foi sinónimo de bem-estar, educação ou prosperidade. Pelo contrário, esteve sempre associado à ideia de violência, insegurança, perigo, ou, na melhor das hipóteses, de falta de instrução ou simplesmente pobreza. O documentário de Rui Simões não pretende apenas procurar o outro lado do bairro e fazer um retrato positivo da sua comunidade. O objectivo deste projecto não é o de apagar uma série de ideias feitas mas procurar as causas e efeitos desses preconceitos. Assim, o realizador seguiu o quotidiano deste bairro, descobrindo nele reflexos de Cabo Verde e procurando os modos como a exclusão social se combate ou perpetua nas vidas dos seus moradores.
Bom cinema, boa saúde, bom trabalho !
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