quarta-feira, 1 de junho de 2011

Portugal em tempo de eleições

 
 

 A menina de 25 anos

Uma menina de 25 anos diz que Sócrates nunca fez nada por ela: ela que não quer fazer um aborto, ela que não quer ter relações sexuais antes do casamento, ela que não é homossexual e ela que não quererá nunca ter uma reprodução assistida. Para além disso insiste que quando um dia tiver filhos, os quer a aprender matemática e língua materna, e não aquelas coisas néscias e " aporcalhadas" da sexualidade. Por isso Sócrates nunca lhe foi útil, conta a menina.

Sempre falando do cimo do seu (já se vê complexo) conhecimento do que foram as políticas públicas os últimos anos… a menina pede a Sócrates que se afaste da vida pública e deixe o pacato cidadão usufruir da sua castidade.

O Público deu à menina honras de 3 colunas, com foto e tudo… Sabe-se lá porquê… devem ter ouvido falar da " participação dos jovens" e acharam que a menina representava mais do que ela mesma.

 

 O badalado vídeo

Uma vez mais o País foi sacudido porque um vídeo foi posto a circular: uma jovem adolescente foi agredida por duas outras.

À volta uns assistiam, um outro filmava. Cena triste sim, a cena em si, os que pacatamente assistiam, os que perversamente filmavam e claro toda a " animação" a partir desse dia.

Os jornalistas redescobriram que "a violência em Portugal está pior do que nunca". Desta vez o Portugal de lenta justiça e de brandos costumes, fez justiça rápida e de mão pesada… foram todos detidos. O debate mostrou-se aceso e nem sempre informado, com um caos de noticias inconsistentes, em geral comentadas por pessoas especialistas em " outros assuntos", em geral clamando por "sangue" .

A questão não é se os autores da aparente "pancadaria e filmagem" deveriam ser ou não responsabilizados, isso parece óbvio, mas a verdadeira notícia seria procurar entender a dinâmica desta infeliz história e procurar activar estratégias para evitar novos episódios. A detenção de 3 jovens, se for um " acto único" vai servir para quê?

 

 Terras do Norte

Lembrei-me da menina que quer o Sócrates na rua, quando esta quinta feira fui a um congresso ao norte e me deparei com um pai que bem podia ser o pai da menina supra. Este pai foi corajosamente falar de sexualidade num painel de especialistas.

Recomendou-nos a todos que devíamos ser "plurais". Depois, num curioso exercício mental declarou a sua convicção de que os filhos são dos pais e que os pais, enquanto seus proprietários, têm direitos inquestionáveis e absolutos sobre os filhos. E porque os filhos são seus/deles, o Estado não pode interferir nesse direito de propriedade.

Eu não sei o que ia na cabeça desse pai, inflamado por um verdadeiro espírito de missão, mas pela minha cabeça passaram todos os infelizes e desprotegidos jovens que me contam como foram agredidos e abusados física e psicológica e sexualmente pelos seus pais. A mim custa-me viver num país onde os pais têm esse direito. Custa-me muito, enquanto terapeuta, enquanto mãe e enquanto cidadã. Francamente gostava que o Estado pudesse evitar isso.

Para quem não saiba, estes miúdos ficam tristes e traumatizados, perdem a infância, desacreditam nos adultos, tornam-se distantes ou agressivos, crescem sem referências! Para além disso é um crime e uma grande malvadez!

Mas o senhor pai continuava e gabava-se de ter tido uns pais fantásticos, que desde muito cedo o alertaram para os perigos da sexualidade, nomeadamente para os malefícios da masturbação e por isso ele queria agora reproduzir esse exemplar modelo com os seus filhos. Este senhor não estava a brincar, era um adulto culto, no século 21, embora clamasse que a masturbação faz borbulhas e outras coisas assim perigosas!

 

 Os cavaleiros do apocalipse

Enquanto País já não temos idade para birras. Se queremos preservar a democracia temos que votar, temos que optar, temos que aceitar ter uma voz na definição do Portugal que queremos.

Mas caramba, até um cidadão interessado, motivado e preocupado pelo futuro do país, fraqueja no período dos tempos de antena dos partidos. É um exercício estóico de cidadania! Mas que "seca"!!!!!

Os nossos cavaleiros do apocalipse (sim porque efectivamente os cabeça de cartaz que nos vão calhando nas notícias, são todos homens inflamados e parecem todos anunciar o fim do mundo) inundam-nos a intimidade do lar e a concentração no trabalho ou nos transportes.

Gostava tanto de ter ouvido uma ideia nova, um raciocínio lógico e transparente que me levasse a crer que cada partido tem um projecto para o seu país. Mas ainda não ouvi ideias novas! Aliás ainda nem ouvi ideias.

Todos os partidos estão de acordo: são sempre os outros partidos que são horríveis e que vão fazer afundar o país no lodo da miséria e, de qualquer modo, a culpa foi e será sempre dos outros partidos. Á beira do apocalipse anunciado pelos nossos cavaleiros, os cidadãos inquietam-se, e o país não avança! Culpa claro, sempre dos outros.

 

Eu vou votar! Não muito convencida, mas vou.

Mas por mim tinha dispensado toda esta retórica, este ruído eleitoral.

Tanto fogo de artifício para convencer os indecisos a votar. Por favor votem!

Se votarmos todos talvez para a próxima vez a campanha se baseie em ideias e em projectos!

 

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