domingo, 8 de abril de 2012

Paredes sem ouvidos para as próximas gerações?

 
Pergunto ao vento que passa/ notícias de por ali /

 e o vento cala a desgraça/ e o vento nada me diz

 

Adriano Correia de Oliveira canta Manuel Alegre /poeta , 1964 (adpt.)

 

Os efeitos do fascismo são ainda tão historicamente recentes que os seus efeitos, nomeadamente na falta de escolarização da população portuguesa, ainda hoje se fazem sentir.

 

Tenho uma memória recorrente dos tempos do fascismo quando era miúda: estudantes da universidade a levar pancada de polícias a cavalo, de bastão na mão, na inauguração das “matemáticas” (em Coimbra).

 

A imagem destes estudantes acompanhou a opção de eu própria me tornar uma académica, dedicada às “causas públicas”. Achava então que a universidade era um palco privilegiado de conhecimento, de justiça, de inovação e de mudança.

 

Hoje, nesta nossa viagem de Páscoa escolhemos ouvir uma colectânea de discos dos anos 60, canções que só foram permitidas em Portugal depois do 25 de Abril, e onde no editorial se explicava o uso da frase “as paredes têm ouvidos”.

 

Enquanto ouvíamos o Zeca Afonso, o José Mário Branco e o Adriano Correia de Oliveira, ocorreu-me que eu nunca tinha tido consciência de estar envolta numa cultura de medo e de repressão: de medo que “ as paredes tivessem ouvidos”, de medo de represálias; uma cultura de prepotência, sexismo, intriga e favoritismo. Até Janeiro de 2010!

 

Estamos em Portugal, na Europa, no século XXI, num Estado de Direito com Governos democraticamente eleitos. No entanto temos ainda nichos bem problemáticos em territórios dissimulados, onde ainda impera o medo e a intriga. Há ainda pessoas que se calam com medo do futuro.

 

Portugal está muito mal classificado num estudo que ordena os países pelo modo como as hierarquias  são estabelecidas:  se pela competência se  pela prepotência. 

Portugal é dos países europeus onde as pessoas mais querem chegar a “chefe” apenas para poder mandar “à vontade” e proteger os amigos, e não para ter uma oportunidade de liderar e produzir progresso para todos. Bolas, é mesmo um fascismo em escala de “ trazer por casa”. 

 

Nesta altura em que estamos em crise, ocorreu-me que sem esta mudança cultural não há sacrifícios económicos que nos valham.

 

Precisamos de líderes com visão, inteligência e saúde mental!  Nem me refiro aqui aos políticos ou aos dirigentes nacionais.

Estou a falar dos “ pequenos poderes”, das forças de bloqueio que infernizam o nosso dia a dia nas nossas instituições e que nos amarram à alienação, ao obscurantismo e ao medo.

 

(Cuidado, “ as paredes têm ouvidos”…)

 

 

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