sábado, 27 de setembro de 2008

De Cochabamba a Cochabamba







Voo calmo para S Cruz de la Sierra. A única nota estranha foi a quantidade de elementos de militares e forças policiais no aeroporto, natural se recordarmos que o aeroporto de S.Cruz esteve ocupado pelos opositores de Evo Morales até há dias.

Cochabamba fica a 2600 metros, num planalto no meio das cordilheiras. É uma cidade cheia de gente na rua, com uma praça tipo das Espanholas, Praça 14 de Setembro, com arcadas à volta, vendedores e passeantes.
Aqui há pequenos comícios pela parte central, com pessoas (lideres comunitários) que animam o debate sobre a situação política no País.
No centro da praça um painel para “Notícias” com textos policopiados em bom estilo do nosso 25 Abril “operários e camponeses unidos …”. Para além das queixas em relação aos governadores da "meia lua" (a parte Oriental da Bolivia), juntam-se as queixas sobre a actuação da administração Bush face à Bolívia.
Anuncia-se uma evento de música de intervenção com letras e música de Victor Jara, Pablo Milanez...
Pedem-se voluntários nacionais e internacionais para trabalhos de alfabetização, cuidados de saúde, animação cultural, desenvolvimento agricola e ecoturismo...
Numa esquina da Praça 14 de Setembro, no Salón Gildaro Antezana uma exposição com quadros do pintor Fredy Escobar Vega. Gostámos do estilo, muito especial, retratos a óleo e acrílico sobre tela, mas à maneira de desenho, com riscos coloridos, sobrepostos, a finalizar. Reproduzimos aqui um deles, o retrato de Evo Morales com Fidel de Castro. Fica também o endereço email do autor (ferediescobar@gmail.com).
Falámos com o artista, um cidadão Boliviano, culto e implicado politicamente. Tem uma colecção de retratos de Evo, que ele admira e adora retratar.

A vida tem aqui um custo quase impensável, o que remete para muitas reflexões.
Digamos que os preços têm o mesmo valor que em Portugal mas o Bolivano vale 1/10 do euro.
Esta diferença é de compreensão óbvia para produtos locais, mas já custa entender como é que esta diferença também acontece para alguns produtos de marcas internacionais. Temos viajado para todo o mundo mas nunca tinhamos visto uma diferença tão grande no custo de vida.
No entanto, se muitas pessoas aqui são pobres, não parece que haja tanta miséria nas ruas como vimos por exemplo em Asunción (e noutras metrópoles pelo mundo).
Há ainda uma grande preocupação pela Saúde e pela Educação.
Veja-se a propósito da prevenção da maternidade não desejada: educação sexual nas escolas, planeamento familiar nos centros de saúde, nos centros da juventude e nos centros comunitários.
(Quem me dá notícias actuais de Portugal? as coisas estão a correr conforme previsto?)
Falámos com um vendedor de DVDs bolivianos que, para nos ajudar a decidir quais comprar, nos contou a história dos filmes, comentou a relevância do enredo, com uma profundidade verdadeiramente insuspeitada para um jovem vendedor na rua. Foi um espanto parecido com o que tivemos há anos em Cuba, esta a sabedoria do cidadão comum em assuntos relacionados com a cultura.

Quanto à situação política, soubemos por um jornal local que uma delegação de 20 Parlamentares da EU chega a La Paz, tal como nós, amanhã, para investigar o massacre de Pando e o conflito dos governadores da "meia lua" face ao Governo.

Sempre chegaremos a La Paz a tempo do congresso! Pela ligeira dor de cabeça de hoje (2600 metros), é dificil imaginar o estado em que vamos chegar a La Paz, a 4000 metros...

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