sábado, 4 de outubro de 2008

De La Paz a La Paz V




















O curso internacional em La Paz



Voltando ao “Enfoque psicosocial en niños, niñas y adolescentes”, mais uma breve descrição acompanhada de contactos uma vez que as páginas web são raras.

As apresentações estavam ao cuidado da Drª Cristina Soto, Presidente da Sociedade de Pediatria de El Alto.

Ouvi a Drª. Rosário Indeburri (Drª Rosário Indeburri) falar dos circuitos de detecção e denúncia de maus tratos e abuso sexual de menores e mulheres. A Rosário trabalha no Hospital Boliviano Holandês, é pediatra e tem uma especialização em Medicina Forense. Fala dos seus casos com vivacidade e uma visão abrangente de “maus tratos”.

Vi fotos de meninos de uns 7 anos a ajudar os pais nas minas, com capacete com luz e tudo.

Da audiência alguém falou de uma manifestação de crianças pelo “direito ao trabalho”, que houve em La Paz, alegando que assim ajudam as suas famílias que de outro modo não têm como viver.



Cada mãe “paceña” tem em média 8 filhos, a média Boliviana é de 4 filhos por mulher, e começam cedo, no início da adolescência. As questões discutidas foram as infâncias perdidas, para a aprendizagem e para a brincadeira, nas crianças que cedo ficam adultas e responsáveis por trabalho.
Como formas de abuso e maus tratos referiu-se a Drª Rosário à atitude da Aerosur (a mesma companhia que nos deixou plantados em Cochabamba 7 horas e já mereceu lugar nos nossos “tesourinhos deprimentes”).

Um menino recém-nascido precisava de uma intervenção cirúrgica em Cochabamba e a Drª Rosário tratou das passagens e da marcação da operação. Na véspera recebeu um telefonema da Companhia Aerosur dizendo que não transportava o bebé porque tinha 6 dias e não transportavam crianças com menos de 10 dias e, à resposta que a criança morreria sem a operação, alegaram que “ainda por cima um bebé doente”. A criança acabou por ser transportada de táxi aéreo e ficou bem, mas os direitos da criança à vida foram impunemente desrespeitados.
Referiu também questões culturais, uma das arrepiantes é a estigmatização dos gémeos (um dos quais é literalmente abandonado até morrer).

A Drª Inge Von Alvensleben ( Drª Inge Von Alvensleben ) é alemã, também pediatra e também se referiu aos maus tratos e abuso sexual, de menores e mulheres. Trabalha numa cadeia de homens e noutra cadeia de mulheres. As cadeias na Bolívia são “como cidades”, os familiares próximos (companheiros, esposos ou filhos) do(a) detido(a) vivem dentro da cadeia, cozinham, há escola, creche e mesmo pediatra.

Ouvi a Drª Gina Bejarano,( Drª Gina Bejarano) também pediatra que falou sobre a família e o seu efeito protector. A Drª Gina trabalha com adolescentes e tem uma página web “Jeans y Pantalones” feito para adolescentes com apoio de adolescentes.

Ouvi Drª Marlene Bérrios ( Drª Marlene Bérrios ), gestora de projectos, que falou de dois projectos com adolescentes, um o Lanzarte, onde os jovens desenvolvem actividades como teatro, música, vídeo ( videostorytelling como fazemos na nossa equipa , “livros animados”, fotografia, dança, na localidade de Huanuni, em plena zona mineira. Ofereceram-me diversos materiais multimedia possivel graças à AOS.

O outro um projecto consiste em concursos para jovens com ideias para ajudar o seu município a construir e reforçar a democracia. Os melhores projectos são apoiados e desenvolvidos. Ambos os projectos têm o apoio da AOS (Aliança Suiça Obreira).

Por fim ouvi a Drª Ingrid Rocabado Michel ( Drª Ingrid Rocabado), especialista em Saúde Pública que faz estudos epidemiológicos com adolescentes.

A Presidente do Comité da Adolescência da Sociedade Paceña de Pediatria é a Drª Cecília Uribe ( Drª Cecília Uribe), pediatra, uma das organizadoras do Curso Internacional e a minha principal interlocutora. Tive ainda o privilégio de conhecer a Drª Ruth Guillén de Maldonado, que há anos foi a primeira a falar de cuidados integrados no atendimento a adolescentes e a fundadora do Comité da Adolescência, que presidiu até recentemente.

Com a Drª Cecília Uribe visitei o serviço de Pediatria e de Obstetrícia do Hospital Boliviano Holandês, construído com o apoio da Cooperação Holandesa e o Serviço de Pediatria do Hospital Andino, ambos em El Alto, cidade (ainda) mais alta que La Paz, nos arredores, a 30 km de distância e mais 500 m de altitude.
No Hospital Andino há um serviço para adolescentes, da responsabilidade da Drª Cecília, que um dia por semana, ainda dinamiza uma reunião de mães, dos 10 aos 16 anos.

Em breve esta dinâmica será ampliada com a ajuda da cooperação Belga e a expectativa é que haja um serviço apenas para adolescentes.
A saúde na Bolívia é gratuita para crianças até aos 5 anos, mulheres em idade fértil com especial atendimento a grávidas.

Muito levo daqui do que pode ser feito com dedicação e empenho mas com tanta falta de condições. É incrivel pensar que as colegas do Comité da Adolescência se cotizam mensalmente, do seu dinheiro pessoal, para ter dinheiro para os seus projectos e acções. É ainda incrível como se organizam para, com um salário de 400 dolares, conseguir apresentar-se em congressos internacionais.
Não é mesmo falta de trabalhos de qualidade a merecer ser divulgados, é mesmo a falta de apoios para conseguir divulgá-los.

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