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This work reflects an opinion and any similitude with alive persons or institutions is a mere coincidence.
Ainda o prémio de investigação UTL/ Santander Totta que ganhámos em 2010
Volto a expressar a minha satisfação por este prémio que ganhámos. Na minha opinião (sublinho "na minha opinião" para evitar receber como prémio colateral um processo disciplinar que já anda há dois anos "em carteira"), ganhámos este prémio apesar de todos os esforços activados nos últimos dois anos no sentido de perturbar ou mesmo impedir o progresso da nossa investigação no âmbito do projecto Aventura Social. Esta é a minha opinião!
Reconheço que estas coisas podem parecer bizarras para quem não está na investigação nem ligado a uma faculdade mas, efectivamente, nós os investigadores somos contratados para um trabalho que deve ter um mínimo de 33% de tempo de investigação. Para poder fazer essa parte do nosso trabalho temos que arranjar dinheiro para trabalhar (penso que é inédito nas regulações laborais).
A Instituição fica com 20% a 30% da verba, para nos autorizar a trabalhar (chama-se "overheads"). Em relação aos outros 70% com que temos de fazer todo o trabalho, é uma luta feroz para lhe ter acesso e as gestões administrativas chegam a chamar à concretização do trabalho dos cientistas "um gasto do dinheiro das faculdades", louvando até os colegas que não trabalham porque "não gastam dinheiro às faculdades".
Parece delirante mas, pelo menos no meu sítio (que eu não posso nomear por causa das expectáveis represálias) e na minha opinião, as coisas passam-se mesmo assim.
Vou transcrever, a título de exemplo a resposta mais frequente que eu recebi nos últimos 2 anos:
Não autorizar o solicitado pela Professora Doutora Maria Margarida Gaspar Matos, com o seguinte fundamento: "O Conselho de Gestão decidiu indeferir, por não ter cumprido o previsto no despacho do Conselho de Gestão quanto aos pedidos de reembolso e por não estar prevista."
Reparem no "requinte" do meu nome. J)))). Nos últimos 2 anos, em todos os ofícios o meu nome aparece como um cálculo combinatório aleatório, dos 6 nomes que o integram: desde um incaracterístico "Maria Nunes" a um famoso "Maria Matos", mas nunca, nunca o nome que eu uso profissionalmente. Tão ridículo isto é que até já reclamei, mas um funcionário alegou que a Academia (da qual ele não faz parte) preconiza chamar as pessoas pelo primeiro e pelo último nome, pelo que eu sou (quer queira quer não!) a Profª Maria Matos J)))) ou mesmo a Prof ª Maria, se me der para refilar muitoJ)).
Analisando a despesa agora recusada: os 590 euros a ser pagos pelas verbas associadas aos nossos projectos tinham a ver com um nosso capítulo que foi aceite numa editora internacional de grande prestígio e competitividade. Uma felicidade para qualquer equipa de investigação (mas não para qualquer escritório burgesso é claro!).
Alegadamente eu não cumpri o despacho da gestão que queria que "o funcionário dos dinheiros" aprovasse a qualidade e pertinência do meu capítulo ANTES da sua aceitação pela própria Editora. O "peer review" passaria assim da academia para o funcionário administrativo J))). A sério não estou a brincar
foi assim mesmo! É mesmo de quem anda a leste destas coisas mas é, tristemente, o que temos!
A Editora tinha mandado a meu pedido um "invoice" (custos previstos) com um prazo de 1 mês para pagamento e eu solicitei o seu pagamento. A gestão exultou e produziu um documento muito extenso apenas para definir a alegada diferença entre "invoice" e "factura proforma"/orçamento e para me admoestar por ter aceite despesas sem autorização. Passou quase um mês.Pedi então autorização de reembolso e paguei eu mesma, no prazo.
Tentei explicar a diferença entre o "invoice", que recebi antes de pagar à laia de orçamento, e o "receipt" que recebi após o pagamento. O resultado foi a "nega" já transcrita : "Paga tu e para a próxima não te ponhas a escrever capítulos sem os serviços administrativos autorizarem J)))"
Depois desta conversa tão chata, e antes dos meus votos de boas festas, quero aqui deixar as deliberações que eu tomei esta manhã, tipo decisões de Ano Novo:
- Indicar no meu currículo este prémio de investigação UTL/Santander-Totta, com a menção "prémio ganho apesar dos esforços por parte de anónimos" .
- Por ter sido recusado o pagamento do alojamento e da manutenção da página Aventura Social, delibero mencionar esse facto na respectiva página: "pagina mantida apesar dos esforços por parte de anónimos".
- Por ter sido recusado o pagamento da revisora dos documentos em inglês, delibero nos agradecimentos mencionar este facto: "artigo aceite apesar dos esforços por parte de anónimos".
Agora sim Boas Festas e um ANO NOVO sem mais disto, acabe-se com esta investida de "escritórios obsoletos e burgessos" contra a ciência, o desenvolvimento, o conhecimento e a sua disseminação.
O problema em Portugal não é (só) económico, é mesmo cultural (incultural).
BOM ANO!
3 comentários:
Cara Professora, infelizmente o processo que descreve é uma realidade em tantos serviços da AP, os "estratagemas" q temos de encontrar para receber as verbas dos projectos financiados por outras entidades..."Em relação aos outros 70% com que temos de fazer todo o trabalho, é uma luta feroz para lhe ter acesso e as gestões administrativas chegam a chamar à concretização do trabalho dos cientistas "um gasto do dinheiro das faculdades", louvando até os colegas que não trabalham porque "não gastam dinheiro às faculdades". "
Um abraço e Boas Festas
GFF
Existem idiotas muito idiotas. Mas existem idiotas tão idiotas que, às vezes, penso : porque raio no meio de tanto espermatozóide terá sido este o mais esperto? (estranha esta coisa da seleção “natural” dos decisores em Portugal. Decisores a quem dão as chaves para abrir e fechar a porta de entrada e eles se julgam donos dos móveis…)
Chapeau Professora pelo seu post e pela sua coragem).
Boas Festas
cs
é com orgulho que a leio. tenho vergonha de encontrar pessoas poderosas que aplicam as suas emoções (caprichosas) em decisões sobre assuntos que podem fazer a diferença (é que nem essa percepçao têm!). como em todo o lado há de tudo, mas nos institutos públicos é + vergonhoso e gritante (intocáveis?). o que fazer? se lidamos com estas situações temos o dever de fazer o nosso melhor e manter a crença de que, por força do curso natural da vida, as mentes limitadas que gerem os seus institutos como as suas despensas, sejam avaliadas e mantidas nos postos pelos seus resultados qualitativos. falta avaliação do que fazem, de como gerem as pessoas à sua volta e a mim falta-me perceber quantos pares de pés idolatraram (beijaram!) para estar ali, na cadeira do poder. tenho vergonha. mas há vezes em que o peito se enche de orgulho, assim como agora que a leio e sinto a força de braços que não cansam.
bem-haja aos anónimos que continuem a apoiar o conhecimento porque têm coordenadores(as) que defendem a sua dama, e há de tudo em todo o lado!
if
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