quarta-feira, 22 de outubro de 2008

De Santiago a Santiago V






















Visitámos a Universidade ARCIS (link também na faixa lateral), uma Universidade com um modelo e uma história interessantes.
Vários académicos refugiados políticos em outros países foram regressando ao Chile mas sem posto de trabalho. Fundaram então a ARCIS (Universidade de Artes e Ciências Sociais, claramente uma Universidade de vanguarda, uma elite intelectual associada à Esquerda Chilena).

Deste historial podemos imaginar a conversa interessante que se tivemos sobre "ideologias", sobre o que é ser de “direita” e de “esquerda” no Chile (e em Portugal) na modernidade e, já que quase todos éramos psicólogos, sobre o que é ser Psicodinâmico/Psicanalista, ou Sócio-Cognitivo ou Cognitivo-Comportamental, na Psicologia Moderna, e claro, qual o papel do psicólogo na compreensão e na acção para a mudança social.
Aqui a Faculdade de Psicologia tem uma forte componente na intervenção comunitária e em politicas sociais, com uma licenciatura em Psicologia, um Mestrado em Psicologia com menção em Análise Institucional e de Grupos e ainda um Doutoramento em Processos Sociais e Políticos na América Latina.

O edifício da Universidade, que também acolhe cursos de literatura e artes, tem uma arquitectura muito bonita e vanguardista em consonância com este ambiente de grande inquietude e reflexão sobre o papel social da Universidade, e sobre o papel da Psicologia e das Artes na cidadania e na mudança social.

Na Europa temos Bolonha e um montão de alegadas vantagens desse modelo.
A ARCIS deu-me uma verdadeira nostalgia dos meus tempos de universidade, em que a inquietação e o gosto pela discussão centrada na vida, na ciência e na sociedade, fazia tanto sentido.
Agora é fácil sentirmo-nos perdidos no meio da contagem e dos somatório dos “impact factors” necessários para as sinuosas subidas nas carreiras académicas (e eu posso falar à vontade, no que diz respeito a publicações, ao contrário de alguns "opositores" cujo verdadeiro argumento se deve "apenas" à sua falta de publicações...)
Hoje, durante a minha visita falei com dois jovens docentes que pelos vistos ainda estão a concluir o seu doutoramento.
Eu, se tivera que avaliar a complexidade do seu discurso, a qualidade da sua argumentação e dos seus conhecimentos sobre as dinâmicas sociais do seu país, os seus conhecimento técnico-científicos sobre o racional das intervenções psicossociais que propõem, a sua contribuição internacional em redes de estudo na área da Psicologia, eu teria acreditado que ambos seriam no mínimo doutores, com uma carreira dedicada à reflexão.

Eu conheço bem os argumentos "de Bolonha", mas fiquei a pensar! Em que altura teremos que parar para pensar aí pela Europa?
A formação de estudantes que estamos a fazer, ensina a pensar?, a reflectir sobre dinâmicas complexas e a resolver problemas originais ? ou queremos ensinar aos estudantes soluções "básicas" e "pronto-a-vestir", para um número finito de problemas já pré-estabelecido? e então a inovação e a renovação?
E um Professor Universitário, é suposto ser “o melhor aluno” da sua disciplina? Ou é alguém que construiu um saber original sobre ela? E para construir esse saber leu, reflectiu, e evoluiu a partir de análises e sínteses pessoais sucessivas? (já agora, se realmente leu e escreveu assim tanto, será admissível que se vejam tantos erros de ortografia e erros semânticos grosseiros?).

Estas questões têm uma resposta rápida e superficial e outra mais demorada e complexa. Deixem-me ficar a pensar!
Foi um dia verdadeiramente inspirador!

5 comentários:

Lúcia Canha disse...

Não vinha ao blogue há uma semana. É sempre um prazer ler a partilha da vossa experiência. E pois é...também eu fico a pensar!
Um abraço grande
Lúcia

Manuel B Mendes disse...

Os meus cumprimentos a toda a equipa peregrina e um grande abraço à minha querida amiga e colega Margarida.
Ter mais de 50 anos tem algumas destas (des)vantagens, a de poder ler os sítios também no tempo.
E eis-me aqui, no canto privado do meu lar, aí convosco! Mas também sem vós, mas sempre só comigo, no dia 11 de Setembro de 1973, quando começou a ‘chover em Santiago’. Lia-se, nessa altura, e entre outros, o ‘Diário de Lisboa’ e, no dia seguinte, comprei-o na Praça do Chile. Exacto, eu morava por aquelas bandas. E, correndo o risco de uma traição mnésica, quase que sou capaz de jurar como era a primeira página (um grande título com o Palácio de La Moneda a ser bombardeado... Seria assim, ou isto é já efeito da minha memória compósita?)
Agora do que me lembro bem são, de facto, das RGA’s e do que por ali se discutia e não discutia e até do ISPA como farol do socialismo...
E se bem compreendo a tua nostalgia, Margarida, muito me impressiona a (eventual) actualidade (localizada?) desta discutida e nunca acabada pretensa identificação de lateralidade política, à luz de uma modernidade, conceito que intuo, foi utilizado em contraponto ao pós-modernismo e seu relativismo, ou não?
No fundo, neste Atacama ideológico (esta é de propósito, atendendo por onde vagueiam) em que nos arrastamos, gostaria de experimentar o travo argumentativo desses excelentes professores do que será essa excelente universidade (ARCIS)!

Marcelo disse...

Margarida, nos agradó mucho compartir contigo y tu esposo en tu visita a UARCIS, esperamos que en el futuro podamos tener encuentros similares.

Andres Guzmán disse...

Margarida, no había visto con detalle tus comentarios, los que me inspiran a mi también. Agradezco las palabras de aprecio que nos dedicas, y espero poder compartir en el corto plazo contigo, y tener más tiempo para conversar sobre lo que "puede y debe" ser la universidad para todas y todos.
un saludo fraterno

Anónimo disse...

Margarida, no había visto los comentarios con detalle, los que a mi también me inspiran. Agradezco las palabras que nos dedicas, y espero que pronto podamos seguir conversando sobre la Universidad que "puede y debe" ser para todas y todos.

Andres Leiva G.