Bullying na relação entre pares na escola e na universidade: 10 passos para inibir relações de intimidação
Desde há 3 semanas o bullying voltou à ordem do dia com propostas no parlamento, declarações governamentais, declarações de especialistas e de cidadãos na comunicação social.
Aqui ficam como contributo, 10 passos para abordar e limitar a questão:
1) Bullying não é (só) violência física, e não é igual a indisciplina na aula. Não é útil baralhar tudo!
2) É preciso não banalizar, mas também não catastrofizar e manter a serenidade, uma atitude pró-activa e uma resistência “ao reboque” da comunicação social e de opiniões com intuitos político-partidários demasiado salientes.
3) Na adolescência, o fenómeno de bullying tem efectivamente diminuído em Portugal como em outros países (ver p.e. www.hbsc.org), nomeadamente diminuiu significativamente a percentagem de alunos vítimas de bullying, onde Portugal tinha ainda em 2002, uma posição europeia muito desvantajosa.
4) Uma das razões identificadas para esta diminuição é justamente que o debate sobre este tema tem tido um efeito inibidor sobre os ofensores, uma vez que anula o carácter de “massacre em privado” de onde este fenómeno retira força.
Para além disso o esclarecimento público sobre as modalidades de “mal estar secreto” dos intimidados, tem permitido uma identificação mais rápida e eficaz e uma acção preventiva.
5) A maior parte dos alunos Portugueses não se envolve em actos de bullying e a maior parte das escolas portuguesas não tem casos de bullying.
A (preocupante) minoria de alunos e de escolas que têm que lidar com este fenómeno têm que tomar medidas serenas mas urgentes: um rol de regras e de punições só por si não resulta e poderá mesmo ter reacções adversas.
As comunidades educativas poderão usufruir da autonomia que têm e promover um amplo e participado debate, procurar ajuda logística e jurídica na definição de regras e custos de incumprimento, definindo desde logo como monitorizar e passar rapidamente à acção.
6) Neste momento pondera-se em Portugal, como em outros países, atribuir ao fenómeno de bullying um atributo de ilegalidade. Esta medida carece ainda de espessura histórica para a avaliação do seu impacto, sendo que não invalida o que se referiu na alínea anterior.
7) Bullying foi definido como uma relação interpessoal com uso de violência física ou psicológica entre pares (entre colegas), mas onde há um desequilíbrio de poder, havendo uma acção de carácter repetitivo e com intuito de fazer mal.
8) Por definição não faz sentido falar de bullying de alunos contra professores (uma vez que esta não é uma relação entre pares), mas não há “escolas de paz” em zonas de violência e, sendo técnicamente incorrecto falar-se de bullying na relação de alunos com professores, já é infelizmente uma realidade a ocorrência deste fenómenos entre pares/ docentes.
9) O bullying entre docentes (e quiçá entre trabalhadores de um modo geral), não se caracteriza pela violência física, mas toma foros de perseguição continuada no tempo com intuito de fazer mal (veja-se definição em cima), com métodos como denegrir a imagem, dificultar a realização de actos profissionais, impedir boa prestação profissional, ignorar, não dar voz, atrasar processos com invulgares entraves burocráticos, enfim tudo critérios do chamado bullying indirecto.
Este fenómeno (já antigo?) de bullying entre pares no meio laboral (aliás com alto paradigma no meio universitário), é efectivamente um modelo para os mais novos: quem consegue poder, serve-se dele repetidamente para prejuízo dos demais.
10) O fenónemo do bullying é inaceitável e medidas urgem, mas a principal medida é realmente uma mudança cultural, uma alteração da “reputação social” do intimidador, tornando esse personagem, quer nos bancos da escola, quer na sala de professores, quer no campus universitário, um verdadeiro “cromo” carregado de indesejabilidade social.
Como este fenómeno vive dos seus “ vícios secretos”, vamos iniciar uma investigação sobre a frequência e tipificação do bullying ao longo da vida.
Se tem histórias para contar, contacte-nos!
1) Bullying não é (só) violência física, e não é igual a indisciplina na aula. Não é útil baralhar tudo!
2) É preciso não banalizar, mas também não catastrofizar e manter a serenidade, uma atitude pró-activa e uma resistência “ao reboque” da comunicação social e de opiniões com intuitos político-partidários demasiado salientes.
3) Na adolescência, o fenómeno de bullying tem efectivamente diminuído em Portugal como em outros países (ver p.e. www.hbsc.org), nomeadamente diminuiu significativamente a percentagem de alunos vítimas de bullying, onde Portugal tinha ainda em 2002, uma posição europeia muito desvantajosa.
4) Uma das razões identificadas para esta diminuição é justamente que o debate sobre este tema tem tido um efeito inibidor sobre os ofensores, uma vez que anula o carácter de “massacre em privado” de onde este fenómeno retira força.
Para além disso o esclarecimento público sobre as modalidades de “mal estar secreto” dos intimidados, tem permitido uma identificação mais rápida e eficaz e uma acção preventiva.
5) A maior parte dos alunos Portugueses não se envolve em actos de bullying e a maior parte das escolas portuguesas não tem casos de bullying.
A (preocupante) minoria de alunos e de escolas que têm que lidar com este fenómeno têm que tomar medidas serenas mas urgentes: um rol de regras e de punições só por si não resulta e poderá mesmo ter reacções adversas.
As comunidades educativas poderão usufruir da autonomia que têm e promover um amplo e participado debate, procurar ajuda logística e jurídica na definição de regras e custos de incumprimento, definindo desde logo como monitorizar e passar rapidamente à acção.
6) Neste momento pondera-se em Portugal, como em outros países, atribuir ao fenómeno de bullying um atributo de ilegalidade. Esta medida carece ainda de espessura histórica para a avaliação do seu impacto, sendo que não invalida o que se referiu na alínea anterior.
7) Bullying foi definido como uma relação interpessoal com uso de violência física ou psicológica entre pares (entre colegas), mas onde há um desequilíbrio de poder, havendo uma acção de carácter repetitivo e com intuito de fazer mal.
8) Por definição não faz sentido falar de bullying de alunos contra professores (uma vez que esta não é uma relação entre pares), mas não há “escolas de paz” em zonas de violência e, sendo técnicamente incorrecto falar-se de bullying na relação de alunos com professores, já é infelizmente uma realidade a ocorrência deste fenómenos entre pares/ docentes.
9) O bullying entre docentes (e quiçá entre trabalhadores de um modo geral), não se caracteriza pela violência física, mas toma foros de perseguição continuada no tempo com intuito de fazer mal (veja-se definição em cima), com métodos como denegrir a imagem, dificultar a realização de actos profissionais, impedir boa prestação profissional, ignorar, não dar voz, atrasar processos com invulgares entraves burocráticos, enfim tudo critérios do chamado bullying indirecto.
Este fenómeno (já antigo?) de bullying entre pares no meio laboral (aliás com alto paradigma no meio universitário), é efectivamente um modelo para os mais novos: quem consegue poder, serve-se dele repetidamente para prejuízo dos demais.
10) O fenónemo do bullying é inaceitável e medidas urgem, mas a principal medida é realmente uma mudança cultural, uma alteração da “reputação social” do intimidador, tornando esse personagem, quer nos bancos da escola, quer na sala de professores, quer no campus universitário, um verdadeiro “cromo” carregado de indesejabilidade social.
Como este fenómeno vive dos seus “ vícios secretos”, vamos iniciar uma investigação sobre a frequência e tipificação do bullying ao longo da vida.
Se tem histórias para contar, contacte-nos!
A divulgação, ainda que anónima, ajuda a encontrar mecanismos de reacção e ajuda a acabar com a intimidação.
Não se isole. Fale connosco!
Referências recentes:
4 comentários:
Existe bullying e mobying na Universidade e receio ter sido vítima deste processo sinistro ao longo de anos do que resultou uma depressão, incapacidade de prosseguir com tarefas básicas, como escrever, produzir artigos, suportar a própria estrutura física da Faculdade, sufocante, e procurar evitar quaisquer contactos mais directos com colegas, estudantes e funcionários - por pura exaustão.
Esta situação pessoal foi-se agravando até ao momento em que recorri ao apoio profissional de um médico psiquiatra e iniciei uma psico-terapia, a par de yoga, meditação e longas caminhadas ao ar livre, forma de recuperar a objectividade e o distanciamento necessários para avaliar correcta e friamente a situação. Finalmente, consegui um afastamento de um ano e pude recuperar energias, lucidez e objectvidade suficientes para identificar intimidadores e processos escabrosos e cobardes de intimidação, sempre efectuada nos bastidores,e de activa campanha de denegrir a minha imagem profissional. Do que havia resultado uma acentuada perda de confiança, uma perda crescente de capacidade de me expressar em público, uma total incapacidade de permanecer em reuniões onde os referidos processos de intimidação e de manipulação se manifestavam, para mim, com a maior clareza.
Tudo isto se passa na Faculdade. Por razões pessoais, pequenas invejas, e acima de tudo, uma necessidade profunda dos intimidadores acederem a um prestígio que, jamais, os graus académicos, por si só, alguma vez lhes atribuirão.
São, em geral, pessoas com extrema baixa auto-estima e que constroem 'o seu poder' na intimidação e manipulação de outros que, por educação, personalidade, ou outras razões, se comportam com gentileza e genuína discrição. Apesar das dez regras serem importantes, há uma que é essencial, talvez a primeira: ser capaz de mostrar que não se tem medo, de enfrentar e desmascarar (se possível publicamente) o intimidador. Desta forma ele sente-se perdido, e acima de tudo sente que o outro, a sua vítima, conhece o seu jogo e a sua fraqueza. Os intimidadores são, em geral, é preciso ter isto bem claro, fracos e cobardes. Por isso se tornam perigosos.
É fundamental continuar com estes estudos e divulgar os resultados. Para que as vítimas deste processo, perfeitamente fascista, possam reconhecê-lo e combatê-lo antes de verem a sua vida pessoal e profissional desmoronar-se, antes que a depressão ou mesmo o suícidio ocorram.
Agradeço o envio da tua mensagem e desejo que o trabalho em causa possa contribuir para alertar e permitir o reconhecimento dos processos de intimidação em causa, demasiado correntes e, por ignorância, permitidos. Existe imenso trabalho, e desde há vários anos, sobre esta questão, em países como a França e a Inglaterra, como certamente sabes. E aí, é muito fácil, e comum, o reconhecimento dos processos e dos seus agentes. Em Portugal a situação está longe de ser essa. Por essa razão é importante que se saiba mais e que se informe a população destes mecanismos demasiado comuns entre nós.
Bom trabalho,
Transmissão geracional do bullying:
Grande parte da intimidação nos adultos está baseada na inveja pessoal. O intimidador tem em geral competências médias/baixas, e a convicção profunda de que as suas competências são boas.
Qualquer trabalho de qualidade, uma popularidade entre colegas, um reconhecimento público, são tudo factos que o intimidador não suporta e que o/a levam a persistir nas suas práticas intimidatórias.
O intimidador conta mentiras, atira culpas, não confia, sente-se sempre ameaçado (Rayner & Hoel 1997).
Um outro problema nesta temática tem a ver com o facto do intimidador em geral usar um "efeito de camaleão": o intimidador impressiona com muita exuberância os seus superiores, com os seus modos cordatos e sedutores. Os intimidadores são em geral muito fieis aos chefes e cumpridores de tarefas rotineiras pelo que são os mais frequentemente promovidos.
São contudo descritos pelos colegas como ”sargentos nazis”. Muitas das vezes a intimidação é um comportamento de defesa: o intimidador apresenta uma personalidade frágil e insegura, a precisar muito de reconhecimento e companhia, aliado a uma grande apetência ao poder pessoal e à progressão na carreira, mas sem que demonstre capacidades profissionais correspondentes.
A intimidação é, nestes casos, um bom recurso para subir na carreira uma vez que muitos patrões valorizam a fidelidade e docilidade que o intimidador típico demonstra.
Contudo, a nível institucional, o comportamento do intimidador leva a uma cultura de controlo, privilegiando a intriga de bastidores, a comunicação opaca e a divisão entre colegas.
O intimidador quando chega a chefe leva os trabalhadores a uma situação sócio-laboral disruptiva.
Em países com políticas sociais sólidas, e um forte empenho nos direitos dos indivíduos como a Suécia, a intimidação é já publicamente reconhecida, facilmente identificada no espaço de trabalho e punida por lei desde 1994 (Lei da discriminação no local do trabalho).
Em Portugal a intimidação é mesmo algumas vezes valorizada.
Os intimidadores aparecem, por vezes, como os heróis das empresas e instituições, os que são fieis e dóceis às suas chefias, os que ”vestem a camisola”.
Contrariamente ao que acontece com a intimidação em meio escolar (Sullivan, 2000), a intimidação no local de trabalho raramente tem a ver com agressão física, assumindo estas formas mais sofisticadas mas também de mais difícil identificação.
Brodsk (1976) fala do intimidador como "o manipulador para o poder e para o privilégio". (in Matos, adapt. 2005 edições CDI:FMH)
Quem passa pelas escolas sabe bem que não é verdade que "a maior parte das escolas portuguesas não tem casos de bullying"...
Pelo contrário, trata-se de um fenómeno que, não sendo muito significativo, ocorre realmente em praticamente todas as escolas (públicas e privadas).
Só quem não procura não vê.
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